domingo, 19 de julho de 2015

Desejo, de Casimiro de Abreu


No ensino médio, eu e meu grupo tínhamos que apresentar um poema do romantismo. Eu adorei a ideia e fui procurar sobre uns poetas da época e procurei um que mais me chamasse a atenção e que eu soubesse que ninguém fosse escolher, e acabei acertando.

Casimiro de Abreu, nascido em 1839, foi um poeta da segunda geração romântica. Para quem não sabe (ou não lembra), o Romantismo foi dividido em três gerações. A primeira é nacionalista, foca na natureza e no índio como herói. Quem não lembra do famoso trecho "Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá", escrito por Gonçalves Dias? A segunda geração, o "mal do século", conhecida por seu lado obscuro, por tratar de morte, amores impossíveis e temas parecidos. A última geração, é marcada pelo erotismo, abolicionismo e a negação do amor platônico. Possui também um interesse social, como Navio Negreiro de Castro Alves.

Finalizado esse "previously", vamos voltar ao poema de Casimiro. "Desejo" trata de uma mulher idealizada, a qual o "eu" do poema não pode tocar, e que faria tudo para poder ter essa mulher perfeita. Acredito que todos (ou a maior parte das pessoas) passam por esse momento um dia, idealizar alguém tão perfeito a seus olhos, mas não pode ter. Gostei muito do poema que até hoje marcou, mesmo se passando 4 anos desde que declamei um trecho dele em sala. Gostei tanto que resolvi compartilhar com vocês.

Desejo


Se eu soubesse que no mundo
Existia um coração,
Que só por mim palpitasse
De amor em terna expansão;
Do peito calara as mágoas,
Bem feliz eu era então!


Se essa mulher fosse linda
Como os anjos lindos são,
Se tivesse quinze anos,
Se fosse rosa em botão,
Se inda brincasse inocente
Descuidosa no gazão;


Se tivesse a tez morena,
Os olhos com expressão,
Negros, negros, que matassem,
Que morressem de paixão,
Impondo sempre tiranos
Um jugo de sedução;


Se as tranças fossem escuras,
Lá castanhas é que não,
E que caíssem formosas
Ao sopro da viração,
Sobre uns ombros torneados,
Em amável confusão;


Se a fronte pura e serena
Brilhasse d’inspiração,
Se o tronco fosse flexível
Como a rama do chorão,
Se tivesse os lábios rubros,
Pé pequeno e linda mão;


Se a voz fosse harmoniosa
Como d’harpa a vibração,
Suave como a da rola
Que geme na solidão,
Apaixonada e sentida
Como do bardo a canção;


E se o peito lhe ondulasse
Em suave ondulação,
Ocultando em brancas vestes
Na mais branda comoção
Tesouros de seios virgens,
Dois pomos de tentação;


E se essa mulher formosa
Que me aparece em visão,
Possuísse uma alma ardente,
Fosse de amor um vulcão;
Por ela tudo daria…
— A vida, o céu, a razão!

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